“Os fenómenos vulcânicos são os indícios
mais espectaculares de que a Terra está muito mais viva do que parece..."
Khan, M. A. Geologia Global, 1980
A
Terra é um planeta vivo, dinâmico, cuja actividade se manifesta
de formas diversas, das quais o vulcanismo é um exemplo. Os fenómenos
de actividade vulcânica indicam-nos que a Terra mantém no seu
interior grande quantidade de calor. Os vulcões alteram a superfície
do globo, causam destruição, mas constituem uma excelente “ferramenta”
para o estudo do interior da Terra.
As
erupções vulcânicas são a mais poderosa exibição
das forças da Natureza. A ideia que terra firme pode explodir mesmo
por baixo dos nossos pés e bombardear-nos com ejectos incandescentes
parece inadmissível. Todos os anos cerca de 50 vulcões no mundo
estão activos acima do nível do mar, ameaçando a vida
de milhares de pessoas, podendo uma única erupção destruir
milhares de vidas num ápice.
A relação entre as pessoas
e os vulcões é tão antiga como a raça humana e, no ínício,
quando o homem procurou explicações para
os fenómenos vulcânicos, atribuíu esses violentos processos
à mitologia e à religião. Mas com o avanço do
conhecimento e da filosofia Ocidental, os gregos no século 3 a.C.,
começaram a procurar as verdadeiras causas físicas do vulcanismo e
especularam que as erupções eram o resultado do escape de elevadas
concentrações de ar e de gases no interior da Terra. Mais tarde,
os Romanos propuseram que os vulcões eram fornos naturais onde a
combustão do enxofre, do betume e do carvão tinham lugar. Esta
procura para as actuais causas do vulcanismo na Terra e noutros planetas tem
continuado até aos nossos dias e existem já muitas respostas para esses fenómenos que em tempos foram desconhecidos.
VULCANOLOGIA
A
vulcanologia é o estudo da origem e ascensão da lava, das erupções
à superfície e dos edifícios vulcânicos presentes
e passados. Um dos principais objectivos aplicados da vulcanologia é
a previsão das erupções e dos seus efeitos, para preparação
de planos de emergência e, sempre que possível, aviso das populações
da possibilidade de erupções.
Alguns
processos vulcânicos constituem um perigo natural enorme, enquanto outros
são altamente benéficos para a sociedade. Os vulcões
e as suas erupções, contudo, são meramente a expressão
à superfície de processos magmáticos que se iniciam em
profundidade na Terra. Assim, o estudo do vulcanismo, é inevitavelmente
interdisciplinar, altamente ligado à Geofísica, à Petrologia e à
Geoquímica.
TECTÓNICA DE PLACAS
O
vulcanismo resultante da dinâmica das placas tectónicas recicla
continuamente elementos voláteis tais como a água, o dióxido
de carbono e o enxofre, entre o interior da Terra e os reservatórios
da superfície: os oceanos e a atmosfera, ciclo bastante antigo. O
vulcanismo é fluxo de energia e calor. É uma expressão
do armazém de energia no interior da Terra, derivado, em parte, do
arrefecimento de um original planeta e, em parte, de fontes de energia actuais,
onde sobressai o calor resultante do decaimento radioactivo do urânio,
potássio, tório e outros radionuclidos presentes na Terra. Quando
vistos numa escala de tempo geológico, os movimentos ocultos do interior
da Terra são verdadeiramente impressionantes, com fantásticas
plumas ascendendo através do manto, originando os chamados pontos quentes. Outras movimentações internas, ainda maiores, são
movimentos convectivos no manto, arrastando e empurrando as placas tectónicas
à superfície, resultando em actividade vulcânica onde
as placas convergem ou divergem (Fig.1)

Fig. 1 - Dinâmica do interior da Terra ilustrando as plumas e os movimentos convectivos do manto. (Fonte: http://www.geology.wmich.edu/kominz/otln3.htm)
É
bem sabido que a superfície da Terra (a litosfera) é constituída
por placas relativamente rígidas. Estas placas são continuamente
destruídas e regeneradas. Em ambos os casos o vulcanismo é um
factor dominante. Os riftes ou cristas oceânicas são os principais
locais onde se cria nova crosta; o vulcanismo é intensíssimo
mas menos conhecido, pois tudo se passa debaixo de água; nas zonas
de subducção as placas mergulham para o interior da Terra, até
que parte do material que as compõe (e de rochas adjacentes) funde
e sobe de novo, acabando por chegar à superfície em vulcões.
A mais importante consequência desta dinâmica das placas tectónicas
é a reciclagem geológica dos materiais, onde o vulcanismo adquire
um papel principal.
A litosfera (crosta e manto superior) tem uma espessura
de cerca de cem quilómetros, e comportamento essencialmente rígido.
Mais abaixo, o manto intermédio é muito mais plástico.
Pensa-se que possa conter uma pequena percentagem de material fundido, responsável
por essa plasticidade. As
cristas oceânicas correspondem a regiões alongadas debaixo das
quais existem gigantescas zonas de subida de material no manto. Nestas geram-se
magmas (de composição basáltica). Simultaneamente as
movimentações no manto tendem a afastar a litosfera em sentidos
opostos. Trata-se de fronteiras de placas ditas construtivas, pois o afastamento
cria condições para vulcanismo e para criação
de nova crosta, fazendo crescer as placas (Fig.2)

Fig. 2 - Limites de placas (convergentes e divergentes). (Fonte: http://www.geology.wmich.edu/kominz/otln3.htm)
Mas porque estão as placas a mover-se? Seguramente devido às
movimentações convectivas no manto. Mas como? Através
de arraste por fricção na base da litosfera? Ou devido à
injecção de magma e lava nas cristas médias oceânicas?
Ou ainda por arraste provocado pela descida das placas nas fronteiras de placa
destrutivas (zonas de subducção)? Talvez nunca venhamos a saber
os detalhes do processo, mas presentemente tem ganho aceitação
a terceira hipótese, denominada slab pull.
"Texto
traduzido e adaptado de: Encyclopedia of Volcanoes
Chapter Introduction, Haraldur Sigurdsson, University
of Rhode Island, U.S.A, 2000.”
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